Todo ano é a mesma coisa. Pelo menos um mês antes
do carnaval eles aparecem. São crianças e adultos fantasiados de ursos que saem
às ruas da cidade, seguidos ao som de tambores e taróis, pedindo dinheiro a
quem passar pela frente. Para uns, é apenas uma maneira disfarçada de mendigar;
para outros, é o último vestígio dos áureos tempos dos carnavais de Mossoró.
Os ursos que se espalham pela cidade nesta época do
anos, alimentando o medo das crianças e
a curiosidade dos adultos (ou a irritação), encontram na figura folclórica da
fera aprisionada um misto de alegria e fantasia, além da oportunidade de ganhar
algum dinheiro, que no final é distribuído entre os participantes da troça.
Não se sabe quando nem quem primeiro se fantasiou
de urso em Mossoró. Mas quem fez, com certeza se inspirou numa das brincadeiras
mais estimadas do carnaval do Recife que é a La Ursa; o urso do carnaval
cujas origens encontram-se nos ciganos da Europa que percorriam a cidade com
seus animais presos numa corrente, que dançavam de porta em porta em troca de
algumas moedas, ao som da ordem: “dança
la ursa!”
Nesse tipo de brincadeira do carnaval pernambucano,
a figura central é o urso, geralmente um homem vestindo um velho macacão
coberto de estopa, veludo, pelúcia ou agave. As máscaras, que no início eram
feitas de papel-machê pintadas de cores variadas, deram lugar ao plástico de
diversos formatos. Na brincadeira, o “urso” é preso por uma corda na cintura, segurado
pelo domador, e dança para a alegria de todos ao som de toadas do próprio grupo
ou sucessos das paradas carnavalescas, podendo variar para o baião, forró, xote
e até polca. A orquestra do urso de carnaval é geralmente formada por sanfona,
triângulo, bombo, reco-reco, ganzá, pandeiro, havendo outras mais elaboradas
onde aparecem violões, cavaquinhos, clarinetes e até trombones. O conjunto
traz, por vezes, além do domador, do urso e da orquestra, o tesoureiro,
porta-cartaz ou porta-estandarte, balizas e outros elementos que lá estão só
para brincar o carnaval.
Os ursos do carnaval de Mossoró não chegam a ser
tão organizados. A maioria dos grupos é formada por crianças, onde uma ou mais
se disfarçam de ursos, com fantasias feitas geralmente com material reciclado,
enquanto o restante segue com a batucada que é formada por bombo e taróis, ou
simplesmente latas. Não cantam; apenas tocam seus instrumentos de percussão,
enquanto o urso evolui, fazendo piruetas, correndo atras de crianças ou
abordando os adultos em busca de dinheiro.
Alguns foliões se fantasiam de ursos já há bastante
tempo. Pesquisando nos jornais locais,
encontrei uma entrevista com um foliões nas páginas deste centenário
jornal “O Mossoroense”, onde o marceneiro Francisco Lauro dizia que se fantasiar de
urso era um sonho de criança. “Eu quando
pequeno acompanhava ursos para me divertir e sonhava um dia poder divertir
crianças com a mesma intensidade que sentia”. Às vezes acontecem
imprevistos, como o que relata Francisco Lauro: certa vez, o folião saiu
fantasiado de urso com seus amigos, cercado de crianças, quando se dirigiu a um
homem para pedir dinheiro. Em vez do dinheiro pedido, o homem puxou uma arma e
a correria foi grande, afirma o marceneiro.
Sem saber o que fazer nem ter tempo para correr, e já esperando pelo
pior, Francisco Lauro teve a idéia de cair e se fingir de morto, numa cena
hilária. O resultado foi que o homem acabou esquecendo a raiva e caindo na
gargalhada. “E tudo acabou numa boa”, explica o folião.
Divertindo, assustando ou irritando, seguem os
“ursos” com suas maneiras exóticas de brincar o carnaval, mantendo viva uma
tradição que é passada de geração a geração.
FONTE – O MOSSOROENSE – FOTO: MOSSORÓ NOTICIAS
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